Vou falar de cor, de quem nunca passou, de quem algumas vezes já disse "comigo não" e depois foi "comigo sim", de quem já levou muitas chapadas da realidade desde que é mãe. Talvez esta seja apenas mais uma, mais uma chapada que levarei daqui a dois anos, quando a Alice estiver na escola e na sua festa de finalistas.
Hoje vou falar de cor, hoje vou falar do que sinto, do que entendo sem nunca ter vivenciado. Hoje vou dizer que acho demais tanto alarido à volta de um final de pré-primária. Hoje vou dizer que viagens de finalistas antes do final do secundário, vá, na loucura, 3º ciclo, é demais, demasiado cedo.
Talvez eu seja uma velha do Restelo, resistente às mudanças velozes que vivemos nos nossos dias. Talvez eu seja antiquada, mãe galinha, excessivamente protetora, mas não me vejo deixar a minha filha viajar ou passar a noite fora com colegas e professores. Não condeno quem o faz. Não o digo que sou eu que estou certa e os outros estão errados. Mas digo-o que a pressão de eventos sociais, de saídas, de presenças dos pais em dias comemorativos é demasiada. Incutem nas crianças festejos que deviam passar com naturalidade, com um bolo de iogurte no final do ano, com beijos e abraços, um até para o ano e "sê sempre feliz".
Agora há cartolas ao bom estilo americano, há diplomas e cerimónias de entregas de diplomas que não poderão constar no curriculum, há finalistas e festas de finalistas, há todo um aparato que leva pais e crianças a vestirem as suas melhores roupas, há crianças nervosas e ansiosas com tanto alarido.
Talvez, daqui a dois anos, seja eu, com a minha melhor roupa, de máquina fotográfica em punho, lágrimas nos olhos, a olhar para a Alice como se ela tivesse a despedir-se do seu percurso escolar e entrar numa nova fase da vida. Talvez, daqui a dois anos, seja eu, maluca de ansiedade pela grande e importante festa do fim da pré-primária.
Hoje, ainda corre livremente em casa, os dias são passados em família, não há diplomas, não há fichas, as contas só quando ela pede para brincar aos números, as letras são desenhadas em paredes de papel de ardósia, as pinturas tanto são no chão da sala como no balcão da cozinha e os horários só para comer e dormir, o resto somos nós que mandamos no relógio.
Aos pais que têm agora os filhos finalistas de pré-primária, parabéns, imagino que o orgulho seja grande porque tudo o que os nossos filhos fazem desde que nascem e abrem os olhos sobre nós, hipnotizam-nos num amor profundo e fazem-nos derreter a cada gesto, palavra ou conquista. Acho que isso corre até ao fim dos nossos dias e não termina numa festa de finalistas.
Continuo a pensar que é um exagero mas... estou convosco no orgulho exacerbado!