Post a propósito de um comentário ao post
Colégio que, por engano, eliminei porque caiu no spam do blog. Felizmente, consegui-o recuperar na caixa de email.
Agradeço sinceramente o comentário. Este espaço é meu, sobre mim e os meus, mas sempre aberto a opiniões, nem sempre, consonantes com a minha. Vou tentar explicar a minha posição:
1. Todos os pais amam os seus filhos, querem o melhor para eles e acreditam que fazem o melhor que conseguem;
2. Todas as famílias têm a sua dimânica própria, a sua forma de ser e de estar no mundo. Isso reflete-se nas suas posições e decisões;
3. Atrasar a entrada escolar está muito longe de se equiparar a uma não vacinação. Atrasar a entrada escolar, até esta ser obrigatória, é uma opção de cada família e nunca põe em perigo a vida da criança e, muito menos, a vida de outras crianças. É, de todo, uma comparação infeliz;
4. Em Portugal é permitido por lei, as crianças poderem estudar em casa até ao 9º ano, frequentando a escola apenas para os exames. Não o farei por diversas razões podendo apontar duas grandes: não me sinto preparada para lhe passar todos os conteúdos de todas as disciplinas até ao 9º ano; quero que ela frequente a escola. Os pais que o fazem têm as suas razões, a sua dinâmica, a sua forma de família;
5. Não sou uma super mãe, estou a anos de luz de ser uma mãe do Ruca. Eu grito, eu sopro para o ar, eu perco a paciência quando não devia, mas acredito que até à data e até à idade de a Alice entrar no primeiro ano (apesar de ir fazer, pelo menos, um ano de pré) estou (estamos incluindo o pai) mais que preparados para lhe passar todas as competências ditas necessárias para uma criança da idade dela;
6. Nos campos onde nos sentimos menos capazes, chamamos ao grupo os profissionais e, por isso, a Alice já frequentou e continuará a frequentar a ginástica e a natação. Já fizemos workshops de música com exibição de espetáculo. Sempre que há participamos em eventos musicais para a idade dela;
7. Se falarmos em competências sociais (onde parece transparecer que é nas instituições que irá adquirir) ou reportórios de comportamentos socialmente aceitáveis exibidos por um indíviduo em situações sociais, de modo a conseguir um adequado relacionamento interpessoal, também sinto-me habilitada para tal. Comportamentos como partilhar, ajudar, agradecer, pedir desculpa ou dizer por favor, são treinados em casa pelo pai e pela mãe;
8. Se na escola criam situações ou possibilitam situações para treinar esses comportamentos, na nossa casa as situações acontecem naturalmente porque vivemos em sociedade e não numa ilha deserta. Todas as semanas vai ao mercado com o pai e sabe que tem que cumprimentar quem lhe vende os legumes, agradecer se lhe oferecem uma banana. Ao final da tarde vamos ao hiper e sabe que tem que esperar pela sua vez na fila da peixaria, do talho e no final para pagar. Agradece a todos que lhe dão alguma coisa ou lhe servem. Na mercearia da rua já é conhecida porque se despede sempre com um "Obrigada e bom trabalho!". Quando recebemos visitas e porque reproduz o comportamento dos pais, a dada altura começou a dizer na saída das pessoas: "Obrigada pela visita!". Sabe que sempre que recebe amigos em casa são eles que escolhem primeiro os brinquedos porque ela os tem em qualquer altura e eles apenas quando cá estão e porque recebemos e damos sempre o melhor que temos. Visita parques infantis todas as semanas, brinca com outras crianças e pergunta sempre os seus nomes;
9. Tudo o que foi descrito acima acontece muitas vezes mas também acontece virar a cara quando lhe cumprimentam na rua e dizer que não quer falar. Muitas vezes chora agarrada ao mesmo brinquedo que um amigo seu. Muitas vezes lhe digo, "não te esqueceste do por favor?". Muitas vezes lhe lembro: "O que se diz à senhora?" e ela responde: "Nada! Não gosto dela!";
10. Não é a escola que educa. Corrigo: Não é a escola que deve educar. A escola instrui. A escola vai-lhe ensinar que um triângulo tem 3 lados, apesar de já saber. Vai-lhe ensinar as cores, que também já sabe. Vai-lhe ensinar a contar mais de 20. A desenhar as letras porque ainda só as sabe identificar. Vai-lhe ensinar a levantar o dedo antes de falar porque cá em casa atropelamo-nos muitas vezes nas conversas;
11. Em casa ela aprendeu a sonhar. Em casa ela usa coroa e diz que é princesa. Em casa usa pijama de manhã e no verão pode usar cuecas até à hora do pequeno-almoço. Em casa aprendeu que o céu pode ser de qualquer cor e o sol, às vezes, é cor-de-rosa para combinar com a cor preferida dela;
12. Desde sempre é e foi a família que desempenha um papel primordial no desenvolvimento socioafetivo das crianças. Se a sociedade atual não o promove devido aos horários excessivos dos pais, a necessidade de ter 2 empregos, mãe e pai a trabalharem o dia inteiro, a pouca proteção à parentalidade que leva as crianças a passarem mais de 8 horas fechadas em instituições, isso é matéria para muitas outras linhas;
13. A Alice é uma privilegiada (achamos nós, outros poderão achar que ela é uma infeliz porque está fechada em casa, sufocada pelos pais) porque tem um pai que gere o seu horário e desempenha as suas funções a par do cuidados com os filhos. Quando tem que estar ausente fisicamente no seu local de trabalho é substituida pela mãe que trabalha na função pública e sai às 15h. Vive num local onde tudo fica perto e as viagens de carro mal dão tempo de ouvir mais de 2 músicas da Maria Vasconcelos, para pena dela;
14. Com a mãe faz as pinturas, brinca com plasticina, tem um quadro de ardósia onde aprende as letras. Das caixas de papelão faz uma casa e pinta com os pais. Os puzzles são dos seus jogos preferidos. Os livros acompanham-a desde berço. Na verdade, em vez de dormir com bonecos escolhia livros para colocar no berço;
15. Já tem o seu próprio cartão da biblioteca, um orgulho para ela. Requisita os seus próprios livros, entrega o seu cartão e vem para casa de peito cheio. À noite é a mãe que lhe lê sempre antes de dormir;
16. Vive ao pé de uma galeria de arte e visita-a a cada nova exposição. Pergunta sobre os quadros e eu pergunto-lhe o que vê ela;
17. Nasceu numa família numerosa, cheia de primos, primas, tios e tias. Tem uma mãe muito sociável que trava amizades com muita facilidade, amizades que trazem atrás os filhos das amigas. Tem um pai que gosta de cozinhar e adora jantares com boa companhia e bom vinho. Com os adultos chegam sempre os filhos que adoram a casa da Alice;
18. 95% das minhas amigas têm os filhos nas creches desde que começaram a trabalhar. Criados por educadoras, nas ditas melhores escolas da região, e não os vejo diferentes da minha filha. As birras são transversais, as partilhas funcionam bem em 10 minutos e nos 5 seguintes já há gritos. Os obrigadas e boas tardes vêm conforme a disposição ou a insistência dos pais (funcionando no sentido inverso);
19. Em Novembro a Alice viu chegar à família um novo membro. Estava quase a fazer 3 anos. Tinha deixado a chucha e a fralda e já se considerada crescida. O mano chegou e ela não regrediu em nada nem nunca demonstrou ciúmes. Talvez tenha sido um teste para ela. Passou com nota 20. Colocá-la na escola era afastá-la de um novo amor que estava a chegar e que precisava de crescer. Passar o dia com o irmão, vê-lo crescer dia-a-dia, a passar todas as etapas, é um novo privilégio que ela estava a ter;
20. Não me considero radical, longe disso. Posso ser considerada radical, aceito-o. Estou apenas a fazer o que acho melhor para a nossa família, na nossa forma própria de ser. Para nós funciona. Para nós é a mais perfeita possível;
21. Longe de mim achar que sou melhor mãe do que as mães que colocam os filhos nas creches porque trabalham ou porque acreditam que o melhor para o desenvolvimento dos seus filhos é tê-los lá. Eu sou apenas a melhor mãe que consigo ser para a Alice e para o António;
22. Assim será por mais um ano letivo. Fora este ainda tem mais 2 anos antes do primeiro ano de ensino básico. Para o ano faremos novo balanço e tomaremos a nossa decisão;
23. Cátia, espero que tenha percebido um pouco melhor a minha posição. Pode não compreender mas talvez a veja com outros olhos;
24. Parabéns a quem, para além da Cátia, teve a paciência de ler isto até ao fim. Haja coragem ;)