Com a epidural às 7h da tarde, nada seria como antes. As contracções de 5 em 5 minutos que aconteciam desde as 8h da manhã continuaram mas nem dava por isso.
Aproveitei para colocar a conversa em dia com a minha mãe. Se antes ela falava e eu tinha que fazer as respirações pouco a pouco sem poder responder, agora mantínhamos uma conversa fluída sem interrupções. Bem, na verdade, com muitas interrupções, os benditos toques. Ora vinha o médico, ora a enfermeira, ora outra enfermeira. Toca um, toca o outro e de todas as vezes perguntava o médico à enfermeira:
"Já fez o toque?" E ela:
"Agora não. Fiz há bocado." E ele:
"Venha ver. Quero a sua opinião!" Ora mais toque e vira, roda, mais outro toque e até julgo ter visto a empregada de limpeza e o segurança do hospital em fila de espera para o toque.
Se me doeram? Nada! Nem sem epidural, nem com epidural.
A dilatação avançava mais rápido. A rotura das águas foi feita pela enfermeira e uma enorme pinça. Tudo caminhava para um parto normal, mais hora menos hora.
Cheguei aos 9 cm de dilatação e eu estava feliz, relaxada e a ver um fim (novo princípio) próximo.
À meia-noite voltou o médico. Ele era de poucas palavras e sempre sério mas parecia competente. É um médico de Lisboa que faz alguns fins-de-semanas no nosso hospital para aliviar o excesso de nascimentos que acontecem nesta bela ilha. Não o conhecia mas o meu médico falou muito bem dele.
Novo toque e o médico diz-me:
"Vamos ter que tirar essa menina."
E eu:
"Oh que bom!" Pensando eu que tinha chegado à altura de começar a fazer força.
Ele:
"Será cesariana!"
As lágrimas cobriram-me o rosto em 2 segundos. Queria saber porquê.
Nesta altura a minha mãe já tinha ido para casa pois B. tinha saído do trabalho e entrou no quarto na altura que o médico dava-me a notícia.
Segundo ele a Alice estava encravada no canal. Não conseguia descer. Achava ele que ela estava a tentar subir novamente e que tinha começado a entrar em sofrimento.
Na mesma hora levaram-me para o bloco de partos e eu comecei a tremer o queixo sem conseguir controlar.
Toda a equipa foi fantástica, tentando conversar comigo para me distrair.
Continuaram com a epidural e aí começou algo que não me traz muito boas recordações apesar de ter sido uma experiência positiva.
Não tive dores mas sente-se os cortes, o aspirador, a força que o médico fez em cima da minha barriga para a fazer descer. Nessa altura não me controlei e gritei. Pareciam que as minhas costelas se iam partir. Umas 5 ou 6 pressões sobre a barriga e sinto "arrancarem" (a parte mais "violenta" para mim) a Nisca de mim.
Passado uns segundos ouço o seu grito estridente que nunca mais parou até irmos as duas para a maternidade. Foi mais de uma hora a exercitar aqueles pulmões. Ouvi-la foi uma sensação de alívio... pensei logo: "Está tudo bem..."
O restante tempo foi a aspirar e a cozer e já só pensava em poder ter a minha princesa nos meus braços.
Levaram-a a conhecer o pai (sendo cesariana não o deixaram entrar) e depois colocaram-a junto a mim.
Ela continuava a chorar. Só quando descemos à maternidade, adormeceu junto ao meu coração dormindo até de manhã.
A minha linda menina tinha nascido e nada seria como dantes...